Os espinhos também
Preguem que Deus é amor,
Deus é amor mais é justiça também...
Há alguns anos, quando ingressei nesse mundo cristão-evangélico gospelizado, comecei a ouvir as ditas músicas cristãs, pois a partir daquele dia, do levantar a mão e não propriamente o dia da conversão [pois esse, pasmem a gente realmente não sabe quando chega] seriam as músicas permitidas, cristianisticamente corretas. Cantava essa e muitas outras com o coração cheio de fé e crendo absurdamente e ignorantemente na coerência-incoerente dessa declaração melódica carregada de justiça própria, munida de sentimentos de separação, incompreensão, posse de santidade farisaica e desejo maléfico de controle de vidas por parte dos poderes clericais, diga-se sacerdotais.
Assumimos uma pretensa conversão e um meritório direito, de nos denominarmos discípulos de Jesus e sair por aí tecendo ensinos, pensamentos, compondo hinos [doutrinários], executando juízos, tomando posse de coisas, pessoas, regiões geográficas e celestiais, salvando e condenando, como se “donos fossemos de alguma coisa, e ainda mesmo que sendo donos, como se não tivéssemos recebido de alguém”. Pregando uma tal graça [que não é de graça, pois por essa pagamos e muito caro] de Deus, que por não ser desprovida do ideal polarizador e dicotomizador de tudo, fruto da natureza caída e adquirida do pecado [a herança maldita do conhecimento do bem e do mal], torna-se a des-graça e sofrimento de muitos, inclusive daqueles doentes que precisam de médico a quem o Senhor veio justamente salvar,que tendo ouvido a mensagem da salvação, correm com o desejo de entrar no Reino de Deus onde terão removidos os espinhos, aguilhões e fardos do pecado. Porém são surpreendidos pelos prazos da morte das igrejas institucionalizadas [fariseus-cantores-porteiros do Reino de Deus] que tratam as vidas das pessoas como obras de produção ou construção, com prazos de validade estabelecidos a se cumprirem aqui nesta terra. Recebemos os pequeninos cheios de ferimentos, dores, decepções, depressões profundas oriundas do pecado e todas suas desgraças, e com linguagem “gangrenosa” e hinos alienadores e angustiantes, disparamos espinhos contra eles, que por muitas vezes lhes causarão mais danos do que [entendam bem] “as práticas pecaminosas” em que viviam e que não definem mais o homem segundo a reconciliação promovida por Cristo na cruz.
É fato que todo o desejo e estabelecimento de justiça própria, divisão, auto-afirmação do fazer para si, fé com obras que não são motivadas pelo o amor, mas pela separação segundo a visão do bem e do mal, caracterizam a não-reconciliação [e só classificam como, mais uma religião], visto que em Cristo tudo está consumado, o homem em Cristo agora vive a lei da Graça, misericórdia e perdão, portanto está reconciliado com todas as coisas e agora cresce como carvalho de justiça sendo transformado dia após dia na própria imagem do filho de Deus.
Para quem deseja viver a verdadeira Graça do evangelho é suficiente saber “que se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo, e tudo isto provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação, Àquele que não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”.
A única justiça que interessa é a Daquele que é justo e justificador de todo aquele que Nele crê, e que fique como declaração perpétua e eterna que Ele mesmo já levou sobre si todos os nossos espinhos inclusive os da terra [os tais cardos e abrolhos] em Sua própria fronte. E que a nós recebidos por esse amor, só cabe anunciar a Rosa que foi moída e exalou aroma suave as narinas do Pai fazendo-nos agradáveis a Ele em Sí mesmo, este seja o nosso cântico para sempre. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário