Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

PLANTANDO A PAZ

Um pacifista resolveu sair por aí semeando umas sementes, que ele acreditava ser as da árvore da paz, um bem intencionado devaneio ideológico.
E, por onde passava, as ia lançando.
Muitas foram comidas pelos passarinhos.
Outras que chegavam a ver a luz do sol, ainda com seus tenros caules e suas frágeis folhas, foram pisadas por pessoas, guerreiras ou pacificadoras, que iam também por esse caminho.
Algumas murcharam, outras definharam e as que lograram se tornar árvores foram alvos dos ávidos lenhadores e transformadas em portas e janelas, cadeiras e armários, à mercê dos marceneiros.
O pacifista ficou muito triste, quando, ao repassar pelo seu caminho da paz, constatou que a única semente a se transformar em árvore frondosa, verdejante e frutífera, tinha sido aquela sua última semente, que havia plantado, com muito cuidado, no jardim da sua casa.
Lembrando-se de um jardineiro, que cuidava há anos dos jardins e dos quintais das casas do seu bairro, foi até ele e contou-lhe sua experiência de tão pouco sucesso. E pediu-lhe uma orientação sobre o que fazer com as próximas sementes que iria semear de novo em seu caminho, na sua quixotesca e ecológica trilha.
O experiente jardineiro lhe falou:
- Seria maravilhoso, doutor, se as coisas nesse mundo fossem simples assim, sem os entretantos, as datas vênias e os outrossins, bastando a gente sair a caminhar, jogando as sementes, plantando árvores sem fim. Infelizmente, só quem cresce assim são as ervas daninhas. Veja o doutor, até a palavra de nosso Senhor, precisa de um terreno fértil e de muitos cuidados, para germinar e crescer.
Mas, no jardim da sua casa, sua árvore da paz cresceu.
O que o senhor fez com ela?
Cuidou dela, adubou, protegeu. Portanto, acho que deve fazer o mesmo com as próximas que for plantar, com as novas sementes que for lançar, no percurso do seu caminho. Mas seja JUSTO com elas. Só plante a quantidade certa, que possa proteger cuidar e dar carinho.
O pacifista agradeceu ao experiente jardineiro pela sua segura orientação e retornou a sua semeadura pelo mesmo caminho, pela nova trilha de uma jardinagem pragmática, seguindo a mesma estrela de seu ideal, mas, alinhada desta vez, ao arado da realidade prática.

>Moral dessa pequena fábula com base bíblica por sinal:
- Se quiser plantar a paz, plante antes a justiça. -

The Mino Times [Caderno 3] Todos os sábados!

Jornal - Diário do Nordeste

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