Eu vi Jesus no Ônibus

Muitos são os apelos, sobre esse tal Jesus anunciado nas rádios, programas gospel, cartazes, panfletos. Todos eles afirmam enfaticamente Jesus está aqui, venha ver, Jesus chegou, ele estará lá, ele fará, será grande, será miraculoso. Não consigo mais me enganar, não dá mais, para mim já chega, foi o bastante, preciso que Jesus deixe de ser uma sistemática e faça sentido para mim revelando-se em meu ser como vida, que esteja de acordo com o graças te dou, pois não foram sangue nem carne que me revelou, mas meu Pai que estás nos céus e entre nós.

Estava dentro do Grande Circular, ônibus que pego diariamente para ir ao trabalho e que me concede diversas oportunidades de aprendizados sobre a vida, às vezes me sinto num verdadeiro inferno nele, porém mesmo no inferno das dificuldades enfrentáveis é possível ver a luz. Estava em pé, [pois sentar é realmente um milagre e quando me sento e conto, ninguém acredita rsrs], quando uma moça sentada me chamou a atenção, seus olhos fitavam o piso, e na minha ótica, havia algo de errado com ela, parecia não ter saúde psicológica a julgar pela sua expressão e a maneira estática e fixa. Porém algo nela me surpreendeu, ao levantar a cabeça pude ver sem avaliações e sem julgamentos, isso é muito sutil em nós, fazemos isso o tempo todo até de forma imperceptível, que ela olhava de forma pura para as pessoas e simplesmente sorria, olhava para cada rosto ao seu redor e emitia sorrisos incomuns para um adulto, mais facilmente visto em crianças, subitamente ela toca o ombro do rapaz que estava sentado ao lado dela, sem palavras, com um sorriso, na tentativa de se comunicar e vi sua mão ser grosseiramente repelida, ao passo que olhava para os rostos e só via dureza e impassibilidade.

Então me sobreveio uma triste compreensão, olhando para ela e por alguns instantes julgando-a como alguém que não fosse normal, fiz a mim mesmo uma pergunta: - Somos nós as pessoas normais quando repelimos um sorriso inocente e desprovido de interesse com tamanha brutalidade e selvageria, normais? - Não certamente, não somos. Olhando para aquela moça pude ter uma certeza que está tão presente e participante da minha alma além do que posso imaginar, olhando para ela vi que não tinha parecer nem formosura, nada havia nela que me atraísse ou a qualquer outro que estivesse ali, sua condição tinha com certeza inúmeras explicações, talvez dores e sofrimentos, quem sabe, o mais impressionante é que os olhos dela cruzaram os meus e fui presenteado com o sorriso mais sincero e puro que já havia recebido em um ônibus, fazendo o sinal de legal para mim continuou a sorrir enquanto eu retribuindo o sorriso caminhava em direção a porta para descer do ônibus, e uma vez mais eu O havia visto. Pois ninguém poderia Ser tão desprezado por querer se comunicar e tão reduzido a inexistência por trazer às vidas a luz e de um sorriso sincero e verdadeiro, que na loucura sã dava de Graça sem nada requerer em troca. Era Ele sim era Jesus, sentado naquele banco, desprezado como alguém de quem as pessoas escondiam o rosto e balançavam suas cabeças, estava ali Ele, e mais uma vez Dele não fizeram caso algum.

Se soubessem que era Ele que estava ali jamais o desprezariam? Se viesse estar entre nós seria novamente um pecador, um insano, um Zé ninguém? Todavia quem se atrever a ser tão louco a ponto de desejar ser limpo de coração estará vendo e tocando Nele assim como seus discípulos viram, ouviram e tocaram Nele, Ele disse perto estou, disse estarei convosco todos os dias, mas a essa palavra quem deu crédito? Graças te dou Pai por não ser limpo, mas ir-sendo limpo no caminho para casa, Graças te dou, pois sou um homem de olhos impuros, e habito com um povo de impuros olhos, porém tua misericórdia me permite com esses olhos ver o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, que não está em outro lugar que não seja o próximo. Bendita seja tua Graça para sempre, Amém.

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