Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Prisão sem Muros

Ela vivia, aproveitava sua inocência e bebia aos goles a vida, com simplicidade e singeleza de coração, sem culpas ou medos, vivendo e aprendendo, fazendo amigos, reunindo pessoas e em comunhão com elas. Nada lhe faltava, era cheia de vida, cheia de sorrisos e brilho nos olhos, não precisava se afirmar em nada para validar sua caminhada, era livre como o vento, para ir e vir como Deus lhe concedia que fosse ir-sendo.
Alguns tentaram tomar-lhe a liberdade e levá-la cativa, porém, como cavalo selvagem, ventos de tempestade, cachoeira que desce do alto a baixo, não foi possível apresá-la, nunca se deixou domar.
Então um dia, não se sabe como, tornou-se presa, foi apanhada pela sedução das sutilezas e vãs filosofias do dragão de pedra, rapidamente transformou-se em alguém fria, não bebia mais da fonte da vida que lhe jorrava de “Graça” e passou a procurar poços rotos e cisternas sujas para matar a sede, seu coração singelo tornou-se um lago de amarguras e era como fel, não tinha mais paz, e passou a viver de cobranças e acusações contra si e contra outros, não reunia-se às pessoas e com elas não se encontrava mais em comunhão, pois passou a pensar-se diferente delas.
Deixou de ter tudo, e pôs-se buscar nada, perdeu o brilho nos olhos e passou a contentar-se com o fosco convencimento de ter luz própria, necessitando afirmar-se no que não é, entrou em um turbilhão de tormentos e inquietações sem fim, saindo do descanso entrou em trabalhos intermináveis e inúteis. Deixou-se levar existencialmente a não mais ir-sendo.
Encontrando-a, pasmei ao ver-lhe, logo eu que um dia fui ensinado por ela a viver e ser livre e indomável como o vento, meu coração chora e angústia-se, pois, sua falta de paz e infelicidade me traz sentimentos de revolta e um grande desejo de libertá-la daquela prisão.Eu enfrentaria desafios, correria riscos para tirá-la das garras do dragão de pedra e mostrar-lhe a vida novamente, mas, terrível coisa para mim foi perceber, que sua prisão não é como as masmorras ou as torres em que as princesas e os rebeldes transgressores eram encarcerados, sua prisão meu Deus... É a pior de todas que já puderam desenvolver, é existencial, é na alma, sou tomado de terror quando olho e vejo que não possui muros. O medo não a permite sair de lá, eu, todavia sei que não posso tirá-la de seu confinamento, mas permaneço por perto, velando-a, dando-lhe pão fresco e o pouco de água limpa que consegue beber, na esperança que, amando-a possa salva-la, pois sei que somente o amor lança fora todo o medo e traz de volta a vida os atormentados e cativos na alma, presos as garras frias do dragão de pedra.

O lamento silencioso de sua alma, traduz-se para mim como um sussurro que diz; Traga-me para a vida ...

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